Temos particularidades no acompanhamento da pessoa idosa com diabetes? 

No Brasil, a pessoa idosa é legalmente definida com idade acima de 60 anos, entretanto, há significativa heterogeneidade neste grupo, que deve ser considerada para o manejo adequado do diabetes.

Pacientes idosos com diabetes, frequentemente, apresentam várias comorbidades associadas e fazem uso de vários medicamentos, além dos prescritos para o tratamento da hiperglicemia. A principal implicação desse fato é o aumento do risco de interações medicamentosas e os efeitos colaterais. Portanto, é imprescindível uma lista detalhada dos fármacos que estão sendo usados.

Esses pacientes também têm maior incidência de alterações cognitivas e quadros demenciais de diferentes etiologias, tais como demência vascular por múltiplos infartos e demência de Alzheimer, comparados às pessoas com tolerância à glicose normal, especialmente na presença de sobrepeso e obesidade.

O comprometimento cognitivo poderá se manifestar de maneira variável, com um espectro que vai desde uma forma “leve”, com discreta perda de memória, até um quadro demencial plenamente estabelecido. A exposição crônica à hiperglicemia (decorrente de mau controle glicêmico) e o aumento na resistência à insulina estão diretamente associados ao aumento desse risco. A ocorrência de hipoglicemia, especialmente quando os episódios são graves e frequentes, também é fator de risco para o desenvolvimento e para o agravamento dos quadros demenciais.

O tratamento farmacológico de pacientes idosos com diabetes mellitus é similar ao recomendado para adultos jovens, quando estes são funcionalmente independentes e sem fragilidades. No entanto, há peculiaridades importantes específicas do tratamento da hiperglicemia em pacientes idosos, como o maior número de comorbidades, a presença de graus variados de sarcopenia e fragilidade, o surgimento frequente de alterações cognitivas, o uso de polifarmácia, o maior potencial para interações medicamentosas e a resposta hiperglicêmica contrarregulatória menos efetiva, que contribuem para maior risco de hipoglicemia.

Antes de iniciar o tratamento farmacológico da hiperglicemia em pacientes idosos com  diabetes mellitus 2, avalie e defina sua funcionalidade para adequação das metas glicêmicas, priorizando a escolha do tratamento da hiperglicemia no idoso, com base no risco de hipoglicemias, de acordo com as características individuais, para minimizar o risco de eventos cardiovasculares, quedas, hospitalização e demência.

As hipoglicemias aumentam o risco de alterações cognitivas, incluindo quadros demenciais, além de elevar o risco de eventos cardiovasculares, especialmente arritmias e isquemia miocárdica. O receio de ter um episódio de hipoglicemia é uma das principais barreiras para a intensificação do tratamento e para a terapia com insulinas, além de ser um dos principais fatores para o abandono do tratamento.

Idosos com  diabetes mellitus 2 apresentam maior risco de hipoglicemia recorrente e/ou severas por vários motivos, entre os quais um mecanismo contrarregulatório menos eficaz, certa perda de percepção da hipoglicemia, uso de polifarmácia e presença de múltiplas comorbidades crônicas. Além disso, frequentemente os sinais de hipoglicemia são inespecíficos (sudorese, tontura, confusão, distúrbios visuais) e são confundidos com sintomas neurológicos ou demência.

A hipoglicemia está associada ao aumento do risco de quedas, visitas a emergências médicas, eventos cardiovasculares, alterações cognitivas e aumento na mortalidade, especialmente em pacientes idosos mais frágeis. Portanto, evitar ou minimizar a ocorrência de hipoglicemias deve ser uma das prioridades no tratamento dessa população.

Nos pacientes idosos em uso de insulina NPH e que apresentem hipoglicemias frequentes ou graves, É RECOMENDADO o uso de análogo de duração longa ou ultralonga.

A desintensificação do tratamento farmacológico pode ser considerada em pacientes idosos. O conceito de desintensifcação inclui desde a retirada completa de medicações, a redução das dosagens ou a substituição de alguns medicamentos, e vem sendo cada vez mais aplicado.

Conteudista:

Débora Angeli – Endocrinologista CEDEBA-CODAR – CREMEB 9582 QRE 9857

Referências Bibliográficas:

Posicionamento Oficial SBD nº 07/2019 ABORDAGEM DA PESSOA IDOSA COM DIABETES 2019 / 2020.https://profissional.diabetes.org.br/wpcontent/uploads/2021/06/Posicionamento_Idoso19_12448v5_brMAR.pdf

Fabio Moura, João Eduardo Nunes Salles, Fernando Valente, Bianca de Almeida-Pititto, Reine Marie Chaves Fonseca, Saulo Cavalcanti. Abordagem do paciente idoso com diabetes mellitus. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023).DOI: 10.29327/5238993.2023-3, ISBN: 978-85-5722-906-8.

COMPARTILHE