Quando encaminhar um paciente com dengue, atendido na Unidade Básica de Saúde, para Atenção Terciária?

A dengue é uma das arboviroses endêmicas do Brasil, causada pelo vírus dengue (DENV), transmitida pelas fêmeas do mosquito Aedes aegypti, principalmente nos períodos de chuva e calor, possuindo 4 sorotipos:  DENV 1 , DENV 2, DENV 3, e DENV 4,  apresentando três fases clínicas: febril, crítica e de recuperação.  A primeira é caracterizada por febre alta (39-40ºC), de 2-7 dias, associada a cefaléia, adinamia, mialgia, artralgias  e dor retro-orbitária. Anorexia, náuseas, vômitos e diarréia podem estar presentes. Já o exantema ocorre em 50% dos casos (mais em face, tronco e membros, palma das mãos e planta do pés). Pode estar associado ou não a prurido. Após essa fase, a maior parte dos pacientes recuperam o estado geral e o apetite.

Porém, a fase crítica, é o “ponto da decisão”. Nesta fase, acende-se o alerta para possível evolução para as formas graves. Tem início com a queda da febre, entre o terceiro e sétimo dia da doença, e, a maioria dos sinais de alarme é resultante do aumento da permeabilidade vascular, que marca o início da deterioração clínica do paciente e sua possível evolução para o choque por extravasamento plasmático.

Portanto, os principais sinais de alarme são: dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua;  vômitos persistentes; acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico); hipotensão postural ou lipotimia; hepatomegalia >2 cm abaixo do rebordo costal; sangramento de mucosa e letargia e/ou irritabilidade.

Também é importante saber que podemos estadiar a dengue em 4 grupos: A, B, C, D.  Nos dois primeiros grupos (A e B), não existem sinais de alarme, podendo o paciente ser assistido em uma UBS, USF ou a nível ambulatorial. No Grupo C, ocorre a presença de algum sinal de alarme, e se faz necessário a reposição volêmica de imediato em qualquer serviço de emergência ou na rede hospitalar, para realização de exames complementares obrigatórios, a saber: hemograma, dosagem de albumina sérica e transaminases, raio-x do tórax e ultrassonografia do abdômen.  Já ao Grupo D, destina-se a presença de sinais de choque, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos. Será preciso manter o paciente com a reposição volêmica, oferecer O2 suplementar, realizar os  exames complementares e as sorologias de dengue obrigatoriamente, além de acompanhamento preferencialmente em  terapia intensiva.

Quanto aos sinais de choque observam-se: taquicardia, extremidades distais frias, pulso fraco filiforme, enchimento capilar lento (>2 segundos), pressão arterial convergente (<20 mmHg), taquipneia, oligúria (<1,5 mL/kg/h), hipotensão arterial (fase tardia do choque) e cianose (fase tardia do choque).

Diante dos sinais e sintomas examinados na consulta, as indicações para internação hospitalar são os seguintes:

  • Presença de sinais de alarme ou de choque, sangramento grave ou comprometimento grave de órgão (Grupos C e D).
  • Recusa à ingestão de alimentos e líquidos.
  • Comprometimento respiratório: dor torácica, dificuldade respiratória, diminuição do murmúrio vesicular ou outros sinais de gravidade.
  • Impossibilidade de seguimento ou retorno à unidade de saúde por condições clínicas ou sociais.
  • Comorbidades descompensadas ou de difícil controle, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, uso de dicumarínicos, crise asmática e anemia falciforme.
  • Outras situações a critério clínico.

Sendo assim, a dengue possui um grande espectro clínico, que vai de pacientes oligossintomáticos a sintomáticos, podendo evoluir para formas graves ou até óbitos. Os profissionais que prestam atendimento nas UBS precisam estar atentos a tais situações e encaminhar o usuário de imediato ao serviço hospitalar.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Saúde. Dengue:  diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança – 6. ed. / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2024.

Conteudista: Priscila Caldas Borges – médica, residente em Medicina da Família e Comunidade – FESF-SUS

COMPARTILHE