Qual a importância da Rede de Apoio na Amamentação?

Para que o aleitamento materno ocorra de forma continuada, muito importante considerar que a mãe precisa de apoio não só de profissionais da saúde como da família, do parceiro e do ambiente de trabalho. Esse auxílio social é chamado de rede de apoio e é muito importante para o sucesso da amamentação.¹

Essa contribuição social impacta na vida das mulheres que amamentam, no desenvolvimento dos filhos e, consequentemente, um retorno para sociedade na medida em que a amamentação é fundamental para a saúde do bebê e da mãe, sendo que o leite, além de alimento, contribui para o desenvolvimento da criança e a protege de doenças, como infecções, diarreia e até asma; favorece um contato mais íntimo entre a mãe e o bebê. Ainda, sugar o peito é um excelente exercício para o desenvolvimento da face da criança, ajuda a ter dentes bonitos, a desenvolver a fala e a ter uma boa respiração. ²,³

A criança que foi amamentada, ao longo da vida, ainda tem menos risco de ter diarreias, infecções respiratórias e alergias. Diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes, além de reduzir a chance de desenvolver obesidade. Crianças amamentadas no peito são mais inteligentes, há evidências de que o aleitamento materno contribui para o desenvolvimento cognitivo. A mãe que amamenta tem menos risco de hemorragia no pós-parto, câncer de mama e ovário, diabetes e infarto, além de voltar mais rapidamente ao peso normal. ²,³

O parceiro (a) e outros membros da família, vizinhos, mulheres mais experientes costumam ser os principais auxiliares do processo e podem apoiar de diversas formas, estando ao lado da mãe durante as mamadas, assumindo os cuidados com o bebê, dando atenção, ajudando na alimentação da lactante, ajudando nos afazeres domésticos e no cuidado das outras crianças, apoiando-a física e emocionalmente durante as dificuldades; incentivando a amamentação quando volta ao trabalho, dentre outras necessidades apresentadas nesta fase. (4)

Para que a amamentação ocorra no tempo e com a vontade necessários de cada mulher, a mulher precisa de tempo e tranquilidade, sentir-se acolhida e menos cansada. Ainda, são essenciais ter apoio com as tarefas do cotidiano, ser ouvida sem julgamentos, ter espaço para tirar dúvidas e para amamentar. ¹

A prática de amamentar ainda está fortemente ligada a crenças, valores e mitos, devendo os profissionais de saúde valorizá-los para que não ocorra a interrupção precoce da amamentação, ao negligenciá-los. Um estudo realizado em 2015 destaca que, esses mitos ainda representam fatores responsáveis pela interrupção precoce da amamentação. (5)

Quando a mãe opta em aderir e manter essa prática, não está expressando apenas a sua decisão, mas também os significados construídos durante toda a vida, seu contexto cultural e de vida, suas motivações e vivências, seus conhecimentos, suas reflexões sobre experiências passadas, os acontecimentos durante a infância, as experiências de seus familiares e amigos, as interferências da mídia, os saberes científicos de cada época histórica e cultural, e a própria influência exercida por sua rede de apoio social. Neste cenário, toda a rede de apoio é de extrema importância, podendo ser considerada um determinante na adesão e manutenção da amamentação. (5)

Estudos têm revelado que as puérperas têm identificado os familiares como as suas principais referências para o cuidado na prática da amamentação. Conclui-se, assim, que os profissionais de saúde, por alguma razão, vêm perdendo sua credibilidade diante da prática da amamentação e que há a necessidade de identificar os motivos que estão levando as puérperas a procurá-los com menor frequência.¹, 6,7

Para que os profissionais de saúde possam desempenhar o papel de apoiadores e incentivadores da amamentação, é fundamental conhecer os saberes e experiências da rede de apoio social da puérpera, no intuito de implementar ações que permitam às mulheres superarem os obstáculos e vivenciarem plenamente a amamentação. Assim, acredita-se que estes devem se aproximar e considerar o contexto familiar e comunitário, assim como as crenças, mitos, tabus e valores culturais imbricados neste processo. ¹

Neste contexto, é de suma importância que os profissionais de saúde se apropriem e trabalhem esse tema da amamentação durante todo período de gestação, mas também dê suporte a esta mulher no puerpério. Eles podem esclarecer dúvidas, tranquilizando a mãe e deixando-a mais segura sobre questões de saúde e alimentação não só do bebê como dela também, além do suporte para o período em que a mulher está em processo de amamentação, que, por vezes, pode gerar insegurança, medo, e ainda pode ser dolorosa (pega incorreta, por exemplo) o que dificulta o processo de amamentar, dentre outros desafios que esta mulher e bebê possam estar enfrentando nesta nova fase da vida.

Por fim, o ambiente de trabalho tem papel fundamental no apoio à amamentação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que ela ocorra de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida e seja complementada com outros alimentos até pelo menos os dois anos de idade.¹

Para que essa mulher tenha uma boa rede de apoio se faz necessário muita gente envolvida: o companheiro/pai da criança; os avós; outros familiares (de sangue ou afetivos); outras mulheres mais experientes; amigos; vizinhos; profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos e outros que atendem as mães/bebês; creches; colegas de trabalho ou escola/faculdade; e a própria instituição/empresa onde a mulher trabalha. As políticas públicas também são importantes neste processo de apoio por meio dos governos e as leis de proteção à amamentação. Qualquer um pode participar fazendo parte da rede de apoio, mas nenhum pode amamentar pela mulher (4).

Toda essa rede de apoio é importante para o sucesso da amamentação, contribuindo para a saúde física e mental da mamãe e garantindo a saúde do bebê, além do vínculo que é fortalecido durante o processo de amamentar.

  1. Prates LA, Schmalfuss JM, Lipinski JM. Rede de apoio social de puérperas na prática da amamentação. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2015; 19(2):310-315.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde da Criança. Benefícios da amamentação. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-crianca/beneficios-da-amamentacao Acesso em 09 Ago 2023.
  3. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Aleitamento materno. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO-Obstetrícia, n. 13/Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno).
  4. Sociedade Brasileira de Pediatria. Pediatria para famílias. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/rede-de-apoio-faz-diferenca-no-aleitamento-materno/ Acesso em 09 Ago 2023.
  5. Marques ES, Cotta RMM, Priore SE. Mitos e crenças sobre o aleitamento materno. Ciência saúde coletiva [Internet]. 2011 May;16 (5) :2461–8. Available from: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000500015.
  6. Teixeira MA, Nitschke RG, Silva LWS. A prática da amamentação no cotidiano familiar – um contexto integeracional: influência das mulheres-avós. Rev Kairós. 2011; 14(3):205-21.
  7. Marques ES, Cotta RMM, Magalhães KA, Sant’Ana LFR, Gomes AP, Batista RS. A influência da rede social da nutriz no aleitamento materno: o papel estratégico dos familiares e dos profissionais de saúde. Cienc. saude colet. 2010;15(1):1391-400.

Redação: Sávia Souza Machado – Enfermeira sanitarista – mestre em Saúde Pública – Teleconsultora do Telessaúde-BA.

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