Existe diferença no risco de hipoglicemia e nas formas de tratamentos dos diabéticos idosos?

Nas ultimas Diretrizes  da Sociedade Brasileira de Diabetes podemos observar o detalhamento das recomendações e particularidades de diabetes no Idoso. Sendo destacado que para o manejo adequado do idoso com diabetes mellitus (DM) devemos considerar a significativa heterogeneidade na população de idosos, como o maior número de comorbidades, a presença de graus variados de sarcopenia e fragilidade, o surgimento frequente de alterações cognitivas, o uso de polifarmácia, o maior potencial para interações medicamentosas e a resposta hiperglicêmica contrarregulatória menos efetiva, que contribuem para maior risco de hipoglicemia. 

 O DM está associado ao aumento de 68% do risco de alterações da mobilidade, aumento de 87% do risco de não conseguir realizar as atividades da vida cotidiana e aumento de 67% da incapacidade de realizar atividades instrumentais da vida diária. Os mecanismos através dos quais o DM leva a essas alterações não são totalmente conhecidos, mas o aumento no catabolismo e a inflamação crônica decorrentes da hiperglicemia estão implicados nesse processos.  

Pacientes idosos com diabetes também têm maior incidência de alterações cognitivas e quadros demenciais de diferentes etiologias, tais como demência vascular por múltiplos infartos e demência de Alzheimer, comparado a pessoas com tolerância à glicose normal, especialmente na presença de sobrepeso e obesidade. O comprometimento cognitivo poderá se manifestar de maneira variável, desde uma forma “leve”, com discreta perda de memória, até um quadro demencial plenamente estabelecido. A exposição crônica à hiperglicemia (decorrente de mau controle glicêmico) e o aumento na resistência à insulina estão diretamente associados ao aumento desse risco. A ocorrência de hipoglicemia, especialmente quando os episódios são graves e frequentes, também é fator de risco para o desenvolvimento e para o agravamento dos quadros demenciais. Os pacientes idosos com DM2 também apresentam maior risco de depressão comparado aos não diabéticos. Por esse motivo é recomendado que sempre seja realizada uma busca ativa por sintomas sugestivos de depressão na primeira consulta e no seguimento desses pacientes. 

 O idoso frágil com DM também apresenta diminuição da resposta contrarregulatória e redução no limiar de percepção para hipoglicemia, o que implica em risco aumentado para hipoglicemias severas. 

As hipoglicemias aumentam o risco de alterações cognitivas, incluindo quadros demenciais, além de elevar o risco de eventos cardiovasculares, especialmente arritmias e isquemia miocárdica. O receio de ter um episódio de hipoglicemia é uma das principais barreiras para a intensifcação do tratamento e para a terapia com insulinas, além de ser um dos principais fatores para o abandono do tratamento. 

Os principais fatores de risco para a ocorrência de hipoglicemias em idosos são: duração da doença, uso de insulina e de sulfonilureias, uso concomitante de múltiplos fármacos ( polifarmácia), alimentação errática, falências orgânicas (renal, hepática e cardíaca), declínio cognitivo, depressão e história prévia de hipoglicemia. 

Os pacientes com hipoglicemia ainda apresentam: maior risco de quedas por sarcopenia, neuropatia sensitivo-motora periférica, diminuição da capacidade visual e ocorrência de hipoglicemias com manifestações neuroglicopênicas, maior risco de incontinência urinária, desidratação, hipovolemia, isolamento social e infecções urinárias, diminuição da capacidade visual, com grande piora na qualidade de vida. 

Decisão do tratamento 

Para os pacientes idosos com funcionalidade preservada e boa saúde geral, recomenda-se manter o tratamento proposto para os pacientes com DM2 não idosos. As peculiaridades específicas de metas de tratamento da hiperglicemia em pacientes idosos estão descritas aa baixo: 

Fonte: Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI: , ISBN: 978-65-5941-622-6. 

Referências Bibliográficas 

  1. Wong E, Backholer K, Gearon E, Harding J, Freak-Poli R, Stevenson C, Peeters A. Diabetes and risk of physical disability in adults: a systematic review and meta-analysis. Lancet Diabetes Endocrinol. 2013 Oct;1(2):106-14. doi: 10.1016/S2213-8587(13)70046-9. 
  1. Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Cadernos de Atenção Básica, 19). Disponível em: . Acesso em: 2022. 
  1. Fabio Moura, João Eduardo Nunes Salles, Fernando Valente, Bianca de Almeida-Pititto, Reine Marie Chaves Fonseca, Saulo Cavalcanti. Abordagem do paciente idoso com diabetes mellitus. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI: , ISBN: 978-65-5941-622-6. 

Responsável técnica pelo texto compilado: Dra Debora Angeli – Endocrinologista – Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia – CEDEBA – CREMEB 9582 RQE9857.

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