Câncer de mama: qual o papel da Atenção Primária à Saúde (APS) na vigilância clínica?

De acordo com as diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e do Ministério da Saúde (MS), pacientes diagnosticados com câncer de mama em estágio inicial, ou seja, que apresentam tumores com menos de 5 cm e até quatro linfonodos positivos, podem realizar o acompanhamento pós-tratamento exclusivamente na Atenção Primária à Saúde (APS). A orientação é que os pacientes sejam avaliados de três a seis meses nos primeiros três anos após a terapia primária, de seis a doze meses nos dois anos subsequentes e anualmente após esse período.

Durante esse acompanhamento, a anamnese e o exame físico são fundamentais para a detecção precoce da recorrência do câncer de mama e da presença de doença metastática. Para isso, os pacientes devem ser questionados sobre a adesão a tratamentos adjuvantes recomendados e é preciso avaliar a ocorrência de sintomas constitucionais, como anorexia, perda de peso e fadiga; presença de dor óssea; sintomas respiratórios, como tosse persistente ou dispneia; manifestações neurológicas, como dores de cabeça, fraqueza muscular e parestesia; sintomas gastrointestinais, como dor no quadrante superior direito do abdômen, alteração nos hábitos intestinais e presença de sangue nas fezes; e sintomas geniturinários, como dor pélvica e sangramento vaginal. Também é essencial considerar o impacto do diagnóstico e do tratamento na saúde psicossocial do paciente, incluindo preocupações financeiras relacionadas à insegurança no emprego ou à invalidez, além de depressão, ansiedade, insônia e dependência de opioides.

Sobre o exame físico, é fundamental realizar uma avaliação completa da mama afetada, caso esteja preservada, da parede torácica, da mama contralateral e das regiões axilares bilaterais. É necessária também uma avaliação cardiopulmonar, abdominal e neurológica. A avaliação ginecológica regular é importante para mulheres em tratamento com tamoxifeno, pois aumenta o risco de desenvolvimento de neoplasias endometriais. Em relação aos exames complementares, pacientes que realizaram por cirurgia conservadora da mama também devem realizar mamografias anuais. Em pacientes pós-tratamento de câncer de mama assintomáticas, exames laboratoriais e imagens de corpo inteiro não são recomendados.

Além do risco de recorrência do câncer de mama, há também a possibilidade de desenvolver um novo câncer de mama primário e outros tipos de câncer, sendo assim, deve-se realizar exames de triagem e cuidados preventivos adequados a sua faixa etária. Ademais, essas pacientes também estão suscetíveis a efeitos adversos relacionados ao tratamento oncológico, a curto e longo prazo.

Conteudista: Ana Carla dos Santos Costa – MR2 de Medicina de Família e Comunidade FESF/SUS

REFERÊNCIAS:

KHATCHERESSIAN, J.L.; HURLEY, P.; BANTUG, E.; et al. Breast cancer follow-up and management after primary treatment: American Society of Clinical Oncology clinical practice guideline update. Journal of Clinical Oncology, v. 31, 2013

RUDDY, K. J.; PARTRIDGE, A. H. Approach to the patient following treatment for breast cancer. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-patient-following-treatment-for-breast-cancer>. Acesso em: 26 jun. 2024.

RUNOWICZ, C.D., LEACH C.R., HENRY N.L., et al. American Cancer Society/American Society of Clinical Oncology Breast Cancer Survivorship Care Guideline. J Clin Oncol, v. 34, 2016

Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Câncer de Mama / COORDENAÇÃO-GERAL DE GESTÃO DE PROTOCOLOS CLÍNICOS E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS – CGPCDT/DGITS/SECTICS/MS – Relatório preliminar – – Brasília/DF: Ministério da Saúde, 2024.

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