A importância da amamentação para a saúde bucal do bebê

Caroline Pinheiro

 A Lei n º 13.435 de 12 de abril de 2017 instituiu o mês de agosto      como o mês do Aleitamento Materno. O Agosto Dourado marca a  campanha de incentivo à amamentação e a cor dourada foi escolhida para simbolizar o padrão ouro da qualidade do leite materno. O simbolismo do mês iniciou-se em 1990 durante um encontro entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a UNICEF. Neste momento foi desenvolvida a “Declaração de Innocenti,” que naquele momento foi assinada por vários países no intuito de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. 

 A amamentação no Brasil é um direito garantido pela legislação, para além da licença maternidade.  O ato de amamentar não perpassa apenas a nutrição. É um momento de vínculo entre a mãe o bebê, e uma forma econômica naturalmente eficaz de prevenção a morbidade e mortalidade infantil com benefícios para toda a vida de um indivíduo. 

O leite materno é composto de água, proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais. Ele é desenvolvido de forma a garantir a satisfação, energia, digestão do recém-nascido, promovendo seu crescimento saudável. São encontradas também imunoglobulinas, como a IgA que age contra infecções, alergia alimentar e outros anticorpos. 

A OMS e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida e complementado até os 02 anos de idade. Quando há introdução alimentar anteriormente ao período de exclusividade do leite materno a criança fica mais exposta a: 

  • mortalidade infantil, principalmente por doenças infecciosas; 
  • diarreia, e sua gravidade 
  • infecções respiratórias 
  • alergias 
  • aumento do risco de hipertensão 
  • colesterol alto, diabetes e riscos a obesidade 
  • estímulo à inteligência 
  • promoção do crescimento 
  • otite média aguda 

Vale ressaltar que estes impactos são altamente significativos em crianças de famílias com poder socioeconômico mais baixos. 

Além do bebê a amamentação também traz benefícios a saúde da mulher, como: 

  • Proteção contra o câncer de mama; 
  • Promove menor prevalência de câncer no ovário e endométrio; 
  • menor sangramento pós-parto, e assim redução do risco de anemia; 
  • recuperação mais rápida do peso gestacional; 
  • menor fraturas ósseas por osteoporose; 
  • proteção contra a diabetes; 
  • menores riscos de depressão pós-parto; 
  • evita nova gravidez nos primeiros 6 meses já que a ovulação neste momento tem interferência do número de mamadas.  

Adicionado as questões de saúde, o custo financeiro de uma família em que a lactente promove amamentação exclusiva é reduzido e uma amamentação feita com sucesso promove uma melhor qualidade de vida geral da família. 

 De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) de 2019, a prevalência de aleitamento materno no Brasil entre crianças menores de 4 meses foi de 59,7 %, e de 6 meses 45,8%. O aleitamento materno na faixa etária de menores de 02 anos foi de 60,3%. Apesar dos índices terem avançado consideravelmente quando comparado a outros estudos epidemiológicos anteriores, ainda estão longe do preconizado. A OMS instituiu uma meta de 70% de crianças menores de 6 meses em amamentação exclusiva até 2030, número este que se encontra bem longe dos resultados obtidos. 

Em alguns casos algumas mulheres podem não ser autorizadas por indicação médica a realizar a amamentação de forma permanente (casos de infecção por HIV, HTLV I e II), crianças portadoras de galactosemia, entre outros) e temporárias (doença de chagas, abscesso mamário, varicela, entre outros). Nestes casos cabe a equipe multiprofissional a prescrição de um substituto nutricional eficaz a crianças, apoio e orientação materna. 

O banco de leite humano (BLH) é uma estratégia de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, e garante a nutrição de bebês prematuros e de baixo peso, e daqueles cujas mães possuem alguma restrição a amamentação.   

O BLH realiza a coleta, seleção, classificação, processamento, controle de qualidade e distribuição.  Cada cidade que investe no BLH possui um Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH) que pode ser fixo ou móvel. Os resultados do ENANI mostraram que a prevalência de crianças menores de 02 anos que receberam leite humano por meio de BLH foi de 3,6 %. 

 O aleitamento materno natural instiga a musculatura do bebê. O ato de sugar estimula a estrutura óssea e muscular adjacente e quando realizada da maneira correta promove à fadiga muscular quando a criança está saciada.  Quando isso não ocorre a criança recorre a sucção não nutritiva, que incluem os hábitos deletérios orais de sucção do dedo, lábio, mamadeira ou chupeta, que podem também estar relacionados a questões emocionais e menor tempo de amamentação. 

Quanto mais tempo duram os hábitos deletérios, sua frequência e intensidade, maiores os riscos de mudanças na arcada dentária da criança e respiração bucal, que pode alterar o desenvolvimento da face, causar apneia do sono, apinhamento dentário, alto índice de cárie, deglutição atípica entre outros. 

Hábitos deletérios e consequências nocivas à saúde bucal: 

  • Uso de Chupeta e sucção digital: As alterações causadas por esses hábitos até os 3 anos de idade podem ser revertidas naturalmente. Levam a mudanças da musculatura e dentárias, entre as últimas a mais comum é a mordida aberta anterior. Podem também ser responsáveis por atresia do palato, assimetria anterior, interposição da língua, respiração bucal, má oclusão esquelética, mordida cruzada posterior, alterações da ATM e oclusão. A “múltipla oferta” de bicos quando a criança usa chupeta pode ser uma causa de pausa precoce do aleitamento materno. 
  • Mamadeira: a mamadeira para uso de fórmulas de nutrição artificial é um meio de sucção nutritiva. Por causarem a alterações da sucção e deglutição podem ser preditores de má oclusão dentária, esqueléticas, alterações respiratórias e de deglutição. Uma alternativa a mamadeira é o copo educativo. 
  • Deglutição Atípica: consiste na persistência da deglutição infantil, o que ocasiona o crescimento alterado dos maxilares e perda dentária precoce 
  • Respiração Bucal:  Pode ocorrer por questões anatômicas, patológicas ou hábitos como sucção digital. Ocasionam alterações esqueléticas que dificultam a respiração nasal exclusiva. A respiração bucal promove mais alterações dentárias e craniofaciais, interferindo assim na sua deglutição. 

Para além disso a higiene bucal do recém-nascido deve ser realizada com fralda de pano ou gaze limpa até a irrupção do primeiro dente posterior. A partir de então deve-se usar escova dental de cabeça pequena e cerdas macias com a quantidade de um grão de arroz de creme dental. É válido salientar a importância da higienização dentária após a última mamada antes de dormir. A introdução alimentar ou uso de fórmulas por meio de mamadeira devem ser feitas sem acréscimo de açúcar. 

A presença do cirurgiã-dentista dentro da equipe de pré-natal é valiosa para educação e promoção da saúde a gestantes e de hábitos fundamentais a saúde bucal de seus bebês. Aliado a isto, é que a primeira consulta odontológica aconteça no primeiro ano de vida, de forma que o profissional venha a identificar hábitos deletérios e orientar os pais quanto ao manejo do seu cessamento. 

Contudo de forma geral os diretos das mães de prover a amamentação devem ser assegurados durante e após a licença maternidade. A figura paterna deve ser encorajada a prestar apoio à mãe durante este período e ambos orientados quanto a questões práticas da amamentação por meio de oficinas e grupos educacionais voltados a este público. Além disso tem que ser garantido a esta mãe orientações posteriores ao nascimento do bebê quanto a dificuldades que poder apresentar-se durante o período de lactação. A ampliação de salas de apoio a amamentação em locais públicos e privados faz aparte do acolhimento desta mulher, assim como educação social sobre o tema. 

Colunista

Caroline Louise Sampaio Pinheiro – Doutoranda em Odontologia e Saúde/Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia.

REFERÊNCIAS: 

  • Passos  M, Bulhosa J. Hábitos de Sucção Não Nutritivos, Respiração Bucal, Deglutição Atípica – Impactos na Oclusão Dentária. Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial 2010; 51(2) 
  • Pereira C, Campos G, Pereira C, Silva D, Oliveira L, Carvalho T, Machado F. Reflexos da amamentação na saúde bucal de bebês e na realidade maternal: revisão narrativa.Research, Society and Development 2021;10(14) 
  • Gisfrede T, Kimura J, Reyes A, Bassi J, Drugowick R, Matos R, Tedesco T. Hábitos bucais deletérios e suas consequências em Odontopediatria 2016, Rev. bras. odontol 73 (2) 
  • Victora C, Barros A, França J, Bahl R, Rollins N, Horton S. Amamentação no século 21: epidemiologia, mecanismos, e efeitos ao longo da vida. Epidemiol 2016, Serv. Saúde 
  • Fonseca R, Milagres L,Franceschini S, Henriques B. The role of human milk banks in promoting maternal and infant health: a systematic review 2021. Ciência & Saúde Coletiva, 26(1):309-318. 
  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primaria à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primaria à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2019. 
  • Secretaria de Saúde do Estado do Paraná. CADERNO DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA ALEITAMENTO MATERNO. Disponível em : https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-07/pdf3.pdf Acesso em : 12 de agosto de 2023. 
  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Aleitamento materno: Prevalência e práticas de aleitamento materno em crianças brasileiras menores de 2 anos 4: ENANI 2019. – Documento eletrônico. – Rio de Janeiro, RJ: UFRJ, 2021. (108 p.). Coordenador geral, Gilberto Kac. Disponível em: https://enani.nutricao.ufrj.br/index.php/relatorios/. Acesso em: 12 de agosto de 2023 
  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança : aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 
  • Gov.br[Internet].Ministério da EducaçãoBrasíliahttps://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/mes-da-amamentacao-traz-a-importancia-sobre-o-aleitamento-materno Acesso em : 12 de agosto de 2022 .
  • BRASIL. Lei nº 13.435 de 12 de abril de 2017. Institui o mês de agosto como mês do aleitamento materno. Brasília, Diário Oficial da União, 2017. 

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