Efeito dos antissépticos bucais sobre o Sars-Cov-2

Tayane da Rocha Costa Coelho

A Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pelo novo Coronavírus (SARS-COV-2) atingiu níveis globais e foi classificada como pandemia. Desde seu início, até março de 2021, aproximadamente 123 milhões de casos e 2,7 milhões de mortes foram registrados.

O SARS-CoV-2 é um vírus envelopado com RNA de fita simples. Sua transmissão se dá pelo contato humano através de fluidos provenientes do espirro, tosse ou inalação de gotículas contaminadas (Baghizadeh et al, 2020). A saliva opera como um reservatório de inúmeros vírus, incluindo o SARS-COV-2 (Vaz et al, 2020), de maneira que a chance de transmissão no atendimento odontológico, parece ser alta; o que acarretaria aumento do risco ocupacional dos cirurgiões-dentistas.

Reduzir o risco de transmissão de doenças, através da saliva, no atendimento odontológico, é de suma importância para a segurança de profissionais da saúde e pacientes. Dessa forma, métodos de controle de infecção cruzada, como equipamentos de proteção individual (EPIS), incluindo máscaras de alta proteção como N-95 E PFF2, óculos de proteção, luvas, entre outros, fazem parte da rotina diária, mesmo antes da pandemia.

Métodos para reduzir a dissipação de vírus através de partículas dos aerossóis também sempre fizeram parte da rotina odontológica. Os antissépticos bucais são amplamente utilizados, com objetivo de reduzir o número de micro-organismos presentes na cavidade bucal, reduzindo assim, a possível dissipação no ambiente odontológico. Ainda não existe evidência de que o uso de antissépticos previamente ao atendimento odontológico possa contribuir para a redução do SARS-COV-2 na saliva e, consequentemente, nos aerossóis, entretanto, a clorexidina, o peróxido de hidrogênio e o PVP-I parecem promissores nesse sentido. Sabe-se que, a clorexidina 0,12% é um antisséptico de amplo espectro que aumenta a permeabilidade da parede celular bacteriana promovendo sua lise; seu uso para o controle de vírus foi majoritariamente avaliado em estudos in vitro (Carrouel et al, 2020). No entanto, um recente estudo in vivo reportou supressão viral do SARS-COV-2 durante 02 horas após bochecho com 15ml de solução, porém numa amostra reduzida de voluntários (Yoon et al, 2020). O peróxido de hidrogênio (H202) 1% apresenta baixo custo e promove controle viral aparentemente eficaz contra vírus na cavidade bucal (Ortega et al, 2020). Como o SARS-COV-2 é vulnerável à oxidação, o bochecho com soluções oxigenadas poderia reduzir sua carga viral salivar, no entanto, os limitados estudos presentes, não confirmaram essa efetividade (Carrouel et al, 2020). O PVP-I (0,5% a 1,5%) apresenta amplo espectro de ação, com efeito sobre vírus envelopados e não envelopados, e estudos favoráveis quanto ao seu uso (30 segundos de bochecho) frente aos demais coronavírus (Kariwa et al, 2006) apontam para um possível efeito no SARS-COV-2, entretanto, isso ainda não foi avaliado.

Portanto, no atendimento odontológico, os cirurgiões-dentistas e equipe devem focar na higienização das mãos, uso correto de todos os equipamentos de proteção individual, desinfecção do ambiente e esterilização, e em medidas de segurança que visem ao controle da produção de aerossol. Além disso, os antissépticos bucais, como medida para reduzir o espalhamento do SARS-COV-2 durante o atendimento odontológico representa uma ferramenta de baixo custo, baixo risco e com potencial benefício.

REFERÊNCIAS

Baghizadeh Fini M. Oral saliva and COVID-19. Oral Oncol. 2020 Sep;108:104821. doi: 10.1016/j.oraloncology.2020.104821. Epub 2020 May 27. PMID: 32474389; PMCID: PMC7250788.

Carrouel F, Gonçalves LS, Conte MP, Campus G, Fisher J, Fraticelli L, Gadea-Deschamps E, Ottolenghi L, Bourgeois D. Antiviral Activity of Reagents in Mouth Rinses against SARS-CoV-2. J Dent Res. 2021 Feb;100(2):124-132. doi: 10.1177/0022034520967933. Epub 2020 Oct 22. PMID: 33089717; PMCID: PMC7582358.

Kariwa H, Fujii N, Takashima I. Inactivation of SARS coronavirus by means of povidone-iodine, physical conditions and chemical reagents. Dermatology. 2006;212 Suppl 1(Suppl 1):119-23. doi: 10.1159/000089211. PMID: 16490989; PMCID: PMC7179540.

Moosavi MS, Aminishakib P, Ansari M. Antiviral mouthwashes: possible benefit for COVID-19 with evidence-based approach. J Oral Microbiol. 2020 Jul 17;12(1):1794363. doi: 10.1080/20002297.2020.1794363. PMID: 32944152; PMCID: PMC7482897.

Ortega KL, Rech BO, El Haje GLC, Gallo CB, Pérez-Sayáns M, Braz-Silva PH. Do hydrogen peroxide mouthwashes have a virucidal effect? A systematic review. J Hosp Infect. 2020 Dec;106(4):657-662. doi: 10.1016/j.jhin.2020.10.003. Epub 2020 Oct 12. PMID: 33058941; PMCID: PMC7548555.

Yoon J.G., Yoon J., Song J.Y. Clinical significance of a high SARS-CoV-2 viral load in the saliva. J Korean Med Sci. 2020;35:e195

Vaz SN, Santana DS, Netto EM, Pedroso C, Wang WK, Santos FDA, Brites C. Saliva is a reliable, non-invasive specimen for SARS-CoV-2 detection. Braz J Infect Dis. 2020 Sep-Oct;24(5):422-427. doi: 10.1016/j.bjid.2020.08.001. Epub 2020 Aug 31. PMID: 32888905; PMCID: PMC7458056.

Currículo das autoras*

Tayane da Rocha Costa Coelho; Patrícia Ramos Cury

Contatos: tayane.rocha@ufba.brpatricia.cury@ufba.br

Programa de Pós-Graduação em Odontologia e Saúde da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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