Teleodontologia: ferramenta potencializadora do cuidado

Mêisson Barbosa da Rocha

O uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) como ferramentas de planejamento, monitoramento e acompanhamento em saúde bucal, tem se tornado cada vez mais frequente nos últimos anos, o que promoveu o surgimento da Teleodontologia, prática que vem sendo aprimorada cada vez mais no âmbito da Telessaúde e do Sistema Único de Saúde (SUS)1

Em 2005 a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendou aos seus membros a adesão do Telessaúde, visando o melhoramento do sistema público de saúde e ampliação do acesso universal.2 A pandemia da covid-19 trouxe consigo a necessidade de reorganização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) e adequação das práticas de cuidado, o que proporcionou aumento na utilização de tecnologias digitais em saúde, na perspectiva de melhor monitorar e atender as demandas do território.1,2 

O Conselho Federal de Odontologia (CFO), emitiu a Resolução n° 226/2020, que regulamenta o exercício da odontologia mediado por tecnologias a distância trazendo orientações para os profissionais e, também foi publicada a Resolução n° 228/2020, que dispõe das ações da teleodontologia no âmbito do SUS.3

Discorrem sobre dois principais conceitos-chave nesta normativa: 

A Teleorientação pode ser entendida pelo ato de orientar por meios digitais ou telefone; esse mecanismo constitui uma forma de coletar informações (questionário pré-clínico) e orientar sobre situações de saúde.3 Este modelo permite a realização do acolhimento, triagem, escuta inicial e orientação, para soluções de dúvidas, e realização de atividades educativas individuais e coletivas. Também pode ser utilizada para definir o momento mais oportuno para realização de procedimentos operatórios.2

O Telemonitoramento permite que o cirurgião dentista verifique questões de saúde e mantenha contato para verificar a evolução daquela condição do paciente já acompanhado por aquele serviço.4 São possibilidades: supervisionar o estado de saúde dos usuários dos territórios de interesse, ferramenta facilitadora para estratégias de rastreamento de famílias com usuários que tenham fatores de risco comum para doenças crônicas não transmissíveis (tabagistas, etilistas etc.). Monitorar usuário após atendimento presencial, sob situação de saúde bucal.2

É importante que o profissional se aproprie das ferramentas disponíveis, sobretudo dos limites éticos da teleodontologia. Nesse contexto, com o objetivo de nortear os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), o Ministério da Saúde (MS), disponibilizou o Manual prático para uso da teleodontologia no SUS, trazendo conceitos, informações importantes, ferramentas, bem como orientações para garantir a segurança e privacidade de dados do usuário.1,2

Em seu estudo, Silva et al. 2021, avaliaram os efeitos da teleodontologia em pacientes que se encontravam em tratamento de câncer oral e de cabeça e pescoço. Os resultados obtidos mostraram que quase 80% dos pacientes preferem, e mais de 90% deles recomendam o uso da teleodontologia para outros pacientes. Como principais benefícios, destacam-se continuidade do atendimento odontológico mesmo de forma remota, menor necessidade de ir ao hospital, menor exposição a covid-19, contribuindo, inclusive, para melhora na qualidade de vida dos pacientes.5

Diversas tecnologias são utilizadas na teleodontologia para realização das consultas virtuais, chamadas de voz, web reuniões, videoconferência, por meio de plataformas como Zoom, Google Meet, Skype, Facetime, Microsoft Teams, Webex, sendo o WhatsApp o mais utilizado. Além da utilização da teleodontologia para comunicação do dentista com o paciente, nota-se a expressiva utilização nas modalidades de Teleconsultoria e Teleducação, serviços ofertados pelos núcleos de telessaúde para os profissionais da APS.2,5

A Teleodontologia apresentou-se como importante ferramenta no combate à covid-19, tem se estabelecido ao longo dos anos como estratégia potencializadora do processo de cuidado, facilitando o acesso à saúde bucal, além de contribuir para o enfrentamento das dificuldades do SUS, alcançando diferentes regiões do país e distintos níveis de atenção. 

Colunista: Mêisson Barbosa da Rocha  – cirurgião Dentista – EBMSP – CRO: 21267 – Residente em Saúde da Família- FESF-SUS/Fiocruz

 

Referências

1.Teixeira CNG, Rodrigues MI de Q, Frota LMA, Frota MMA, de Oliveira AEF. Panorama situacional da Teleodontologia no mundo: uma revisão integrativa. Rev. ABENO [Internet]. 7º de agosto de 2018 [citado 18º de dezembro de 2022];18(3):24-3. Disponível em: https://revabeno.emnuvens.com.br/revabeno/article/view/455

  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Saúde da Família. Manual prático para uso da teleodontologia [versão preliminar]. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 52 p. 

3.Conselho Federal de Odontologia. RESOLUÇÃO CFO-226, de 04 de junho de 2020. Brasília-DF, [acesso em: 17 de dezembro de 2022]. Disponível em: https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLUÇÃO/SEC/2020/226

4.Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO n° 228/2020. Brasília-DF, [acesso em: 17 de dezembro de 2022]. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/07/Resolução-CFO-228-2020.pdf

5. SILVA, H.E.C. et al. The role of teledentistry in oral cancer patients during the COVID-19 pandemic: an integrative literature review. Supportive Care in Cancer, v. 5, p. 1-15, 2021b. DOI: 10.1007/s00520-021-06398-0. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00520-021-06398-0. Acesso em: 18 de dezembro de 2022.

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