Retomada dos atendimentos odontológicos eletivos.

Alice Mota Lima*

Sabe-se que a saliva é um meio importante para transmissão do vírus da COVID e que os cirurgiões-dentistas estão entre os profissionais sujeitos tanto a adquirir quanto a transmitir o SARS-CoV-2, se não adotadas as providências adequadas.1,2,3 Esse risco existe devido ao contato próximo entre profissional e paciente nos atendimentos, a geração de aerossóis inerente a alguns procedimentos, a disseminação de gotículas de saliva e sangue, e também a possibilidade de infecção cruzada por meio de superfícies contaminadas.2,3

Nesse contexto, em 2020, por meio das notas técnicas nº 9 4 e nº 16 5 de março e junho, respectivamente, o Ministério da Saúde orientou a suspensão dos atendimentos odontológicos eletivos e a manutenção dos atendimentos de urgência em todo território nacional.1,2

Essas notas citadas tinham caráter orientativo e, sendo assim, cabia a gestão municipal a decisão de seguir ou não essa recomendação.  Atualmente, entendendo a heterogeneidade dos cenários epidemiológicos no Brasil, fica evidente a necessidade de uma organização local da atenção à saúde bucal.1,2

Para que os atendimentos odontológicos aconteçam de forma segura é necessário considerar as recomendações das autoridades locais, os fatores associados à evolução da pandemia na sua localidade e a capacidade de resposta do Sistema de Saúde, considerando sempre os riscos individuais e coletivos envolvidos.1

É importante destacar que a retomada dos atendimentos eletivos deve ocorrer de forma gradativa, planejada e monitorada. Recomenda-se aos gestores observar alguns aspectos para tomada de decisão:1

O primeiro deles é o momento epidemiológico do município. Deve-se levar em consideração o número de casos ativos da COVID, o número de casos graves da doença, o coeficiente de incidência de mortalidade e também o número de leitos hospitalares disponíveis.1

O segundo aspecto é a disponibilidade de Equipamento de Proteção Individual (EPI). Uma vez que há um grande risco de contato com gotículas contaminadas pelos profissionais de saúde bucal, é imprescindível a utilização de EPI e a correta paramentação e desparamentação para a manutenção dos atendimentos. (1)

O terceiro aspecto, e não menos importante, é a qualificação da equipe para o manejo de pessoas infectadas ou não e também para o seguimento de medidas de enfrentamento da COVID-19.1

A retomada dos eletivos de forma ordenada precisa priorizar aqueles usuários que não devem ter seu cuidado postergado. Para facilitar o entendimento, os atendimentos eletivos são divididos em dois grandes grupos: essenciais e ampliados.1

Os essenciais são aqueles destinados a tratar de condições ou situações de saúde que não apresentam risco iminente a vida do paciente, mas que o adiamento prolongado da assistência pode trazer repercussões negativas para saúde geral. Mesmo em cenários de restrição dos atendimentos odontológicos devem ser garantidos.  Temos como exemplos dessa categoria o pré-natal odontológico, atendimento de pessoas com deficiência, atendimento de pacientes com hipertensão, diabetes ou outras condições sistêmicas.1

Os ampliados, por sua vez, são aqueles cujas condições não oferecem risco à vida ou trazem grandes prejuízos saúde geral dos usuários se a intervenção for postergada.1  

Numa retomada de atendimentos eletivos, recomenda-se a priorização dos essenciais, bem como a finalização de tratamentos e a intervenção em condições com risco de agudização.1  

Em relação à biossegurança, além do uso correto dos EPIs, também é recomendado que a renovação do ar dos consultórios seja garantida e que as técnicas manuais sejam priorizadas em detrimento das geradoras de aerossóis. Sendo assim, deve-se evitar, sempre que possível, o uso de canetas de alta e baixa rotação, seringa tríplice, ultrassom e jato de bicarbonato. Também é preciso que haja aumento dos intervalos entre as consultas para possibilitar adequada descontaminação dos ambientes.1,6

Vale ressaltar que no contexto da pandemia é de extrema importância que haja um equilíbrio entre a oferta segura da atenção à saúde bucal e a redução dos prejuízos causados à saúde da população pelo adiamento prolongado do cuidado odontológico.2

REFERÊNCIAS

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Saúde da Família. Guia de orientações para atenção odontológica no contexto da Covid-19 [recurso eletrônico] Brasília, 2021. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/fevereiro/18/03_02_guia-de-orientacaoes-para-atencao-odontologicas-no-contexto-da-covid_19-isbn.pdf> Acesso em: 06 mai. 2021.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Nota Técnica CGSB/DESF/SAPS/MS nº 3/2021. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/NT_3_2021_Bucal.pdf> Acesso em: 04 mai. 2021.
  3. CARDOSO, Tiago Fernandes et al. COVID-19 e a Cavidade Bucal: interações, manifestações clínicas e prevenção. ULAKES JOURNAL OF MEDICINE, v. 1, 2020.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Nota Técnica CGSB/DESF/SAPS/MS nº 9. Covid -19 e Atendimento Odontológico no SUS. Brasília, DF: MS, 2020.
  5. BRASIL. Ministério da Saúde. Nota Técnica CGSB/DESF/SAPS/MS nº 16. Covid -19 e Atendimento Odontológico no SUS. Brasília, DF: MS, 2020.
  6. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 04/2020. 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/notas-tecnicas/nota-tecnica-no-07-de-2020/view >. Acesso em: 06 mai. 2021.


Colunista:

Alice Mota Lima* – Contato: alice_mota01@hotmail.com

Currículo da colunistaCirurgiã-Dentista graduada pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (FOUFBA). Residente Multiprofissional em Saúde da Família pela FESF-SUS.

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