Quando encaminhar uma pessoa com diabetes ao psiquiatra ou ao psicólogo?

A Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) – Edição 2023- recomenda aos profissionais de saúde que façam um acolhimento colaborativo, com empatia e isenção de julgamento, centrado na pessoa com DM, para que esta possa desempenhar papel ativo no planejamento, no monitoramento e na avaliação das dificuldades e nos cuidados com sua condição metabólica. Destaca também que, enquanto a linguagem cuidadosamente escolhida pode ter um efeito positivo, há um impacto potencialmente negativo do uso de palavras estigmatizantes e discriminatórias na comunicação entre profissionais de saúde e pessoas com DM, que pode levar ao afastamento dos serviços de saúde e a um automanejo inapropriado. A existência de barreiras linguísticas, ou a compreensão limitada das diferenças culturais, também podem ter impacto negativo no autogerenciamento do DM. As evidências existentes mostram que o treinamento de profissionais da saúde pode melhorar habilidades de linguagem e comunicação com as pessoas com DM.

A presença de comorbidades psiquiátricas, tais como depressão, ansiedade e desordens alimentares, tem sido associada consistentemente à não adesão ao tratamento medicamentoso, ao controle glicêmico inadequado e ao desenvolvimento de complicações relacionadas ao DM. Desta forma, o rastreamento de comorbidades psiquiátricas deve ser encorajado na Atenção Primária pela equipe de saúde e, precisa ser capaz de reconhecer quadros de depressão, ansiedade, diabetes distress e transtornos alimentares, diferenciando-os das dificuldades rotineiras relacionadas ao manejo do diabetes.

O diabetes distress (DD) é uma resposta emocional à convivência com o DM, às preocupações específicas da experiência de lidar com uma doença crônica grave, complicada e exigente. Também pode surgir do impacto social do diabetes relacionados ao estigma, à discriminação ou à falta de entendimento das pessoas. Identifica-se a presença de DD quando os critérios para o diagnóstico dos transtornos psiquiátricos não são atingidos. O impacto do DD não deve ser subestimado e precisa ser diferenciado dos transtornos psiquiátricos clássicos, por serem mais prevalentes.

A Diretriz da SBD destaca as principais situações que justificam o encaminhamento de uma pessoa com DM a um psicólogo ou psiquiatra (adaptado de Young-Hyman D, et al):

Concluindo, é recomendado que pessoas com DM, seus familiares e cuidadores, recebam atenção psicossocial quando identificados problemas que interfiram no controle da glicemia, na autogestão do cuidado e no estresse familiar, para promover a melhora da adesão ao tratamento e da qualidade de vida.

Organizadora do texto: Debora Angeli – Endocrinologista CEDEBA – Cremeb 9582 QRE

Referências:

Zolnierek KBH, Dimatteo MR. Physician communication and patient adherence to treatment: a meta-analysis. Med Care. 2009 Aug;47(8):826–34.

Young-Hyman D, de Groot M, Hill-Briggs F, Gonzalez JS, Hood K, Peyrot M. Psychosocial care for people with diabetes: A position statement of the american diabetes association. Diabetes Care. 2016 Dec;39(12):2126–40.

Lloyd CE, Wilson A, Holt RIG, Whicher C, Kar P, Language Matters Group. Language matters: a UK perspective. Diabet Med. 2018 Dec;35(12):1635–41.

Rodrigues G, Malerbi F, Pecoli P, Forti A, Bertoluci M. Aspectos psicossociais do diabetes tipos 1 e 2. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI: 10.29327/557753.2022-23, ISBN: 978-85-5722-906-8.

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