Qual a importância e as limitações da Hemoglobina glicada no acompanhamento do diabetes mellitus?

A hemoglobina glicada é o parâmetro laboratorial mais utilizado para avaliação do controle glicêmico em pessoas que tem diabetes. Sua importância está estabelecida pela sua correlação com a incidência de complicações crônicas e mortalidade. A relação entre HbA1c e mortalidade por todas as causas tem se mostrado em forma de J, com eventos aumentados para HbA1c acima de 8% e abaixo de 6%. A redução de 1% na HbA1c acima da meta, associa-se a redução de 14% de infarto agudo do miocárdio fatal e não fatal e em 37% de complicações microvasculares. Portanto, deve ser solicitada rotineiramente na avaliação inicial e, periodicamente, em todo o seguimento.

A Hba1c é o produto de glicação da fração A1c da hemoglobina A. Sendo a meia-vida das hemácias em torno de 3 meses, a HbA1c se relaciona a média das glicemias diárias dos 3 meses que antecedem a sua dosagem. Em pacientes com glicemias mais estáveis, pode ser solicitada semestralmente e, a cada 3 meses, em pacientes que necessitam de ajuste de terapia para alcançar as metas glicêmicas. Com a padronização internacional de métodos de dosagem, passou a ser utilizada também para o diagnóstico de diabetes. Em educação para autocuidado, pode ser utilizada para demonstrar que as mudanças de comportamento precisam ser sustentadas para a manutenção dos benefícios.

Por tratar-se de uma medida indireta de avaliação da glicemia, sua limitação mais relevante é a falta de avaliação das flutuações glicêmicas e os registros de hipoglicemia. Pessoas com extremos de glicemia podem ter HbA1c semelhantes a outras com glicemias mais estáveis e dentro das metas. Para aqueles com maior variabilidade glicêmica, especialmente com diabetes tipo 1 ou tipo 2 com deficiência de insulina, o controle glicêmico é melhor avaliado pela combinação de resultados da HbA1c e outros métodos que permitam avaliar o padrão das glicemias. A automonitorização da glicemia capilar com a construção do mapa glicêmico tem sido classicamente utilizada para esta finalidade. O uso de sensores de monitorização de glicose intersticial permitem a avaliação de parâmetros que se correlacionam melhor com a variabilidade glicêmica, como o tempo no alvo (TIR – Time in Range), o tempo em hipoglicemia e o coeficiente de variação. Quando a hemoglobina glicada for usada como único método de avaliação do controle glicêmico, deve ser vista de forma criteriosa, especialmente ao se propor ajustes na terapia por valores pouco acima das metas desejadas.

Outra limitação é que, na presença de condições clínicas que afetem o ciclo de vida das hemácias (como anemias e hemólise, drogas que aumentem a eritropoiese, doença renal crônica, gestação, hemoglobinopatias), a hemoglobina glicada pode elevar ou reduzir, não mantendo correlação com a glicemia média estimada.

Apesar dessas limitações, o gerenciamento do diabetes objetivando as metas de Hb1Ac permanece o padrão-ouro.

Autora: Dra. Roberta Lordelo Lobo – médica endocrinologista, pela FMUSP – CRM 15693; atua na CODAR / Centro de Diabetes em Endocrinologista do Estado da Bahia.

Referências:

Metas no tratamento do diabetes – Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes – Ed. 2022

American Diabetes Association Professional Practice Committee; 6. Glycemic Targets: Standards of Medical Care in Diabetes—2022. Diabetes Care 1 January 2022; 45 (Supplement_1): S83–S96. https://doi.org/10.2337/dc22-S006

Atualização sobre Hemoglobina Glicada (A1c) para avaliação do controle glicêmico e para o diagnóstico do diabetes: aspectos clínicos e laboratoriais. POSICIONAMEN T O OFICIA L 3ª EDIÇÃO 2009 320110603170201.pdf (sbpc.org.br

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