Prevenção de acidentes de trabalho.

*Márcia Pinheiro Teles

Ambiente de trabalho é todo espaço – físico ou abstrato – que, ao interagir com o trabalhador, pode alterar seu estado físico, psíquico e social de forma positiva ou negativa e é composto por um conjunto de fatores interdependentes. Quando algum desses fatores foge ao controle, pode desencadear, entre outros problemas, os acidentes de trabalho. (1)

Na visão contemporânea, o acidente de trabalho deixa de ser considerado apenas como erro humano, isto é, centrado nas demandas cognitivas, perceptuais e fisiológicas dos trabalhadores, para ser considerado um evento inserido em um processo produtivo. Suas causas não são claras, mas podem ser originadas de inadequações mais profundas como problemas de concepção, de comunicação nas equipes, deficiências gerenciais dentre outros. Busca-se entender o contexto, o comportamento do trabalhador e o sentido de suas ações no momento do acidente para que seja possível pensar e atuar em sua prevenção e contribuir para a promoção de saúde e segurança dos trabalhadores, bem como para a adoção de medidas a fim de evitar novas ocorrências de acidentes. (2)

Uma empresa comprometida com seus trabalhadores precisa tratar com responsabilidade a prevenção de acidentes, cumprindo as leis e normas de segurança, além de estabelecer atitudes e uma série de medidas a serem tomadas por ela e por seus colaboradores para estabelecer uma cultura de prevenção de acidentes no trabalho real, efetiva e permanente. Tudo deve ser voltado à prevenção de acidentes, sendo a produtividade uma consequência desse trabalho e não o inverso. (3)

Para tanto, o Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST) é uma ferramenta de grande relevância para o desempenho da empresa, buscando aprimorar seu atendimento às legislações, aumento da produtividade, diminuição de acidentes, credibilidade no mercado e crescente conscientização quanto à segurança e à saúde dos colaboradores e parceiros da organização. (4)

Algumas ferramentas podem auxiliar na saúde e segurança do trabalho no cotidiano, como:

  • Diálogo Diário de Segurança (DDS) que visa conscientizar o trabalhador a respeito de sua segurança no ambiente laboral; (5)
  • Registro de Prevenção, que é a formalização de práticas que podem levar a risco para os trabalhadores; (5)
  • Presença da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) que oferta palestras relativas à segurança, inspeções, investigação de acidentes e controle de produtos perigosos; (5)
  • Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), relativo à norma regulamentadora n. 9 (NR 9) que é indispensável pois facilita o monitoramento e controle dos riscos existentes no ambiente de trabalho, através do mapeamento de riscos;(6)
  • Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), estabelecido pela norma regulamentadora n. 7 (NR 7), que tem como objetivo a promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores a fim de prevenir, mapear precocemente e diagnosticar os agravos à saúde dos trabalhadores, constatar casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à sua saúde. (6)

Devido à posição e funções que exerce, a boca é uma área de absorção, retenção e excreção de substâncias tóxicas que penetram no corpo, estando vulnerável às agressões do meio externo, como as observadas no ambiente de trabalho.(7)  Sendo assim, a boca pode apresentar manifestações consequentes de agravos ou doenças do exercício profissional(8) e suas repercussões indesejáveis comprometem o desempenho profissional, sendo decorrentes de processos dolorosos, desconforto, dificuldade para dormir e alimentar-se bem, além de alterações de natureza comportamental. Como possíveis consequências, podemos citar o absenteísmo, o presenteísmo (situação em que o trabalhador está presente, porém não está concentrado para a realizar suas atividades), ausências prolongadas para tratamento odontológico ou até a ocorrência de acidentes de trabalho determinados pela dificuldade de concentração por conta desses problemas. (9) Consequentemente, não podemos separar as doenças bucais das condições gerais de saúde do ser humano. (10)

Nesse sentido, é muito importante que o cirurgião-dentista também faça parte da equipe de saúde ocupacional para oferecer estratégias de promoção de saúde e prevenção, além de diagnosticar rapidamente alguma alteração na saúde do trabalhador. (11)

Os investimentos em saúde e segurança do trabalho são vantajosos tanto para o trabalhador como para a empresa, pois além de cumprirem a legislação, proporcionam um ambiente de trabalho seguro aumentando a produtividade, reduzindo os gastos e perdas tanto na produção como na segurança. A preocupação das empresas deve estar pautada no bem-estar de seus trabalhadores. (6)

Referências:

1. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Segurança do trabalho: guia prático e didático. 2ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2018.

2. SOARES, E. B.; CURI FILHO, W. R. Olhares sobre a prevenção dos acidentes de trabalho. v.16, n. 4, dez, 2015. P. 84-103.

3. SESI BAHIA. Prevenção de acidentes no trabalho – tudo que você precisa saber para pôr em prática! Disponível em http://sesiba.com.br/tudosobresst/blog/prevencao-de-acidentes-no-trabalho. Acesso em: 12 jul 2021.

4. OLIVEIRA, O. J. de; OLIVEIRA, A. B.; ALMEIDA, R. A. Gestão da segurança e saúde no trabalho em empresas produtoras de baterias automotivas: um estudo para identificar boas práticas.  UNESP, Bauru – São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.revistargss.org.br/ojs/index.php/rgss/article/view/23 Acesso em: 12 jul 2021.

5. TAVARES, J. C. R. Conheça    4    ferramentas    de    segurança    do trabalho. OKUP Rede Ocupacional, 2017. Disponível em: https://okup.com.br/conheca-4-ferramentas-de-seguranca-do-trabalho/ Acesso em: 12 jul 2021.

6. ALMEIDA, C. G.; NASCIMENTO, T.; NUNES, N. M. S. A importância da segurança no trabalho para as organizações. Revista Científica Interdisciplinar. n. 2; v. 3, jul/dez, 2018. p. 85-98.

7 VIANNA, M. I. P.; SANTANA, V. S. Exposição ocupacional a névoas ácidas e alterações bucais: uma revisão. Cad. Saúde Pública, v. 17, n. 6, 2001, p. 1335-1344.

8 ARAÚJO, M. E.; MARCUCCI, G. Estudo da prevalência das manifestações bucais decorrentes de agentes químicos no processo de galvanoplastia: sua importância para a área de saúde bucal do trabalhador. São Paulo: Odontologia e Sociedade, v. 2, n. ½, p. 20-25, 2000.

9 MIDORIKAWA, E. T. Odontologia em saúde do trabalhador como uma nova especialidade profissional: definição do campo de atuação e função do cirurgião-dentista na equipe de saúde do trabalhador. 336f. Dissertação de mestrado em odontologia – Faculdade de odontologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

10. MOTA, J. N. G; WANDERLEY, F. G. C.; SILVA, R. A.; ALMEIDA, T. F. Absenteísmo por causa odontológica: uma revisão de literatura relacionada à ausência no trabalho e à saúde bucal do trabalhador. Passo Fundo: RFO v. 20, n. 2, maio/ago. 2015, p. 264-270.

11. TELES, M. P.; COSTA E SILVA, M. M.; SILVA, R. A. Odontologia no campo da saúde do trabalhador. In: LINDEN, M. S. S.; DE CARLI, J. P.; CAUDURO, R. BUSATTO, A. L. S. Multidisciplinaridade na saúde bucal. Porto Alegre: RGO, 2009. p. 20-23.

Colunista:

*Márcia Pinheiro Teles

Currículo: Especialista em Saúde e Segurança do Trabalho pelo ISC – UFBA; Especialista em Saúde Coletiva e da Família pelo Instituto São Leopoldo Mandic; Mestre em Odontologia pela FOUFBA; Doutoranda no Programa de Odontologia e Saúde da Universidade Federal da Bahia.

MARIA CRISTINA CANGUSSU

Currículo: Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Odontologia e Saúde da Universidade Federal da Bahia.

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