Pessoas com diabetes podem usar glicorcorticoides?

Os glicocorticóides são amplamente utilizados por sua ação antiinflamatória e imunossupressora. A indução de diabetes, ou piora de controle glicêmicos em pessoas já em tratamento, podem ocorrer durante o uso destes medicamentos. Entretanto, em diversas condições de saúde o uso de glicocorticóides é o tratamento de escolha, tais como em doenças auto-imunes e respiratórias, como crise de asma e exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica. Devem ser utilizados na menor dose e no mais curto intervalo de tempo, que alcance a eficácia terapêutica.

Ao iniciar o uso de glicocorticóides, a terapia medicamentosa habitual deve ser mantida. A monitorização glicêmica domiciliar deve ser intensificada em usuários de insulina (4 a 6 vezes ao dia) e, idealmente, deve ser feita pelo menos uma vez ao dia naqueles em uso de hipoglicemiante oral.

Os padrões glicêmicos podem variar dependendo do glicocorticóide, dose e esquema. Doses de reposição (usados na insuficiência adrenal) causam leve hiperglicemia, enquanto doses moderadas a altas (como 7,5 e 30 mg de prednisolona respectivamente) podem causar acentuada elevação. Quando glicocorticóides de ação intermediária são utilizados pela manhã a hiperglicemia é mais detectada no fim da tarde. Quando usados em doses divididas ao longo do dia, há hiperglicemia durante todo o dia. Um padrão característico é a hiperglicemia pós prandial devido ao aumento da resistência a insulina. Desta forma, a glicemia em jejum pode ser normal com significante hiperglicemia ao longo do dia.

Mesmo em indivíduos não portadores de diabetes, quando o uso prolongado de glicocorticóide for indicado, devem ser avaliados fatores de risco para seu desenvolvimento, tais como uso de doses mais altas (prednisolona > 20 mg, hidrocortisona > 50 mg, dexametasona > 4 mg), longa duração de tratamento, idade avançada, IMC elevado, intolerância à glicose prévia, história de diabetes gestacional, história anterior de hiperglicemia induzida por glicocorticoide, história familiar de DM, HbA1c ≥ 6%. É recomendado realizar o rastreamento de diabetes antes e depois de iniciado o tratamento. Este pode ser feito anual ou semestralmente, conforme presença de fatores de risco, através de avaliação de glicemia em jejum e/ou HbA1c.

Referências

1 – Shah P, Kalra S, Yadav Y, Deka N, Lathia T, Jacob JJ, Kota SK, Bhattacharya S, Gadve SS, Subramanium KAV, George J, Iyer V, Chandratreya S, Aggrawal PK, Singh SK, Joshi A, Selvan C, Priya G, Dhingra A, Das S. Management of Glucocorticoid-Induced Hyperglycemia. Diabetes Metab Syndr Obes. 2022 May 23;15:1577-1588.

2 – Cobas R, Rodacki M, Giacaglia L, Calliari L, Noronha R, Valerio C, Custódio J, Santos R, Zajdenverg L, Gabbay G, Bercoluci M. Diagnóstico do diabetes e rastreamento do diabetes tipo 2. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022).

Autora

Dra. Roberta Lordelo Lobo Médica Endocrinologista, pela FMUSP, CRM 15693. Atua na CODAR/ Centro de Diabetes em Endocrinologista do Estado da Bahia.

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