O papel do cirurgião-dentista no cuidado ao paciente com diabetes na Atenção Básica.

Tais Almeida Santana

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica, de abrangência mundial, que exige um olhar multiprofissional das equipes de Saúde da Família (eSF). A mudança do perfil etário da população, a obesidade e o estilo de vida são fatores preponderantes para o crescimento dessa comorbidade a nível mundial 1.

É importante que toda a equipe de Saúde Bucal (eSB) atenda integralmente os pacientes portadores de Diabetes, desenvolvam interconsultas e estejam em contato direto com toda eSF, para delinear um plano terapêutico com foco na eliminação de infecções, controle glicêmico e qualidade de vida desses pacientes 2.

Não existe correlação científica entre o diabetes e doenças bucais, porém algumas alterações parecem estar mais aparentes nesses indivíduos, como é o caso da doença periodontal, diminuição do fluxo salivar e infecção oportunista. A desregulação dos níveis glicêmicos pode ocasionar o aparecimento de tais agravos, podendo ainda estar relacionadas ao uso de medicamentos potencialmente xerostômicos, que muitas vezes são usados por pessoas com diabetes 3.

Desta forma, é primordial que o dentista atue de maneira interprofissional, dialogando com os demais profissionais, envolvendo toda equipe no cuidado do paciente com DM. Esse processo de aproximação e troca entre profissionais como médico, dentista, nutricionista, educador físico, dentre outros, contribuem imensamente com a melhora clínica da saúde geral e bucal dos indivíduos acometidos pela associação da DM com outras comorbidades 2,3.

A anamnese odontológica, além de bastante detalhada, deve avaliar as condições gerais, verificando se o usuário apresentou internações, picos ou declínios de glicemia, de modo a conhecer o histórico médico-odontológico; dentre outras informações que possam colaborar para um planejamento seguro. Assim como, deve-se avaliar: os níveis recentes de glicemia em jejum e de hemoglobina glicada; quais medicamentos esses pacientes usam e sua posologia; e, se tem outras condições preexistentes 3.

É primordial que o Cirurgião-Dentista conheça bem o seu paciente, para elaborar um plano terapêutico mais condizente possível com a realidade. Sempre orientando à higiene oral, profilaxia dentária, de modo a garantir um meio bucal adequado e livre de focos infecciosos (realização de raspagens, fechamento de cavidades, restauração, aplicação de selantes em áreas susceptíveis), dentre outras condutas 3.

Em pacientes com diminuição do fluxo salivar, deve-se avaliar a necessidade de saliva artificial, pois é comum o acometimento por Candida albicans, devido a desidratação da cavidade bucal e higiene oral deficiente. Além disso, o profissional deve estar cauteloso ao uso dos vasoconstrictores – em caso de pacientes não controlados está contraindicado o uso de vasoconstrictor adrenérgico, optando-se pelo uso da felipressina (um agente que pode ser usado com segurança nesses pacientes, visto que não altera a glicemia, frequência cardíaca ou pressão arterial 3).

As pessoas portadoras de DM podem, e devem, se alimentar normalmente antes dos procedimentos odontológicos, sendo de extrema importância que o profissional verifique a glicemia antes da realização de procedimentos, ainda que não sejam invasivos; considerando sempre as informações do paciente sobre a hora e a dose do medicamento ingerido e a hora da última alimentação 1,2,3.

Com esse propósito, instituiu-se a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas (Portaria GM/MS nº 483), objetivando o fortalecimento e a garantia do cuidado integral a esses pacientes 4.

Destarte, é imprescindível que os serviços de saúde estejam organizados de modo a atender esses pacientes em suas necessidades, com ações preventivas para evitar agravos e promover a saúde, por meio de atividades educativas, e de conhecimento amplo à toda população.

Colunista:

Tais Almeida Santana – Cirurgiã-Dentista; Residente em Saúde da Família (FESFSUS).

Referências:

1- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diabetes Mellitus / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 64 p. il. – (Cadernos de Atenção Básica, n. 16). (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em:< file:///C:/Users/tais.santana/Downloads/diabetes_mellitus_cab16.pdf>.Acessado em 27 de jun. 2022.

2- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 160 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36). Disponível em: < file:///C:/Users/tais.santana/Downloads/estrategias_cuidado_pessoa_diabetes_mellitus_cab36%20(1).pdf>. Acessado em 27 de jun. 2022.

3- Silva, T. M. C; Gallottini, M. H. C. Cuidados odontológicos de pacientes com diabetes. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO/UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS. Atendimento odontológico de pacientes com doenças crônicas não transmissíveis. Assistência odontológica a pacientes com DCNT: diabetes, hipertensão e doença renal crônica. São Luís: UFMA; UNA-SUS, 2020.

4- Ministério da Saúde. Portaria Nº 483, de 1º de abril de 2014. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt0483_01_04_2014.html>. Acessado em 27 de jun. 2022.

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