Manejo do comportamento do paciente infantil no atendimento odontológico.

Vitória Rodrigues

A atuação do cirurgião dentista na atenção primária envolve o atendimento de pacientes nas suas variadas faixas etárias de vida. (1) O atendimento clínico de crianças acaba se tornando um desafio para estes profissionais, devido as particularidades que envolve o atendimento infantil, incluindo o manejo comportamental desses pacientes. Em sua maioria, as crianças são colaborativas ao atendimento, porém por se tratar de um ambiente onde não estão habituados, além de possuírem pouca maturidade, podem se tornar resistentes ao tratamento.

É importante ressaltar que o atendimento infantil requer uma relação de confiança entre o profissional, os responsáveis e a criança. É preciso que sejam consultas planejadas de acordo com a faixa etária da criança, pois, quanto mais jovem for o paciente, menor o tempo de cadeira. Dessa forma, o planejamento do tratamento proporcionará um atendimento mais assertivo dentro da capacidade comportamental daquele indivíduo. (2,4)

As técnicas de manejo comportamental pediátrico associam conhecimentos de psicologia infantil e das fases de desenvolvimento da criança, a fim de tornar o paciente mais cooperativo. O domínio e o emprego assertivo dessas técnicas viabilizam um atendimento eficaz e seguro.

A maioria das técnicas são de aplicabilidade simples, requerendo apenas ajustes de comunicação e postura profissional. Seguem abaixo alguns exemplos:

Técnica Falar-Mostrar-Fazer: a técnica objetiva reduzir a ansiedade, devido a adaptação do paciente ao procedimento que será realizado, podendo ser empregada para todos os tipos de pacientes. O profissional primeiro faz comunicação verbal com a criança e o responsável sobre qual procedimento será realizado; em seguida mostra os instrumentais que serão utilizados, demostrando como deve ser feito o procedimento.

Controle da Voz: o profissional conquista a atenção da criança mudando o timbre ou aumentando o volume da voz, pois a maneira que se fala é mais importante que as palavras utilizadas. A comunicação com a criança deve ser clara e objetiva, importante que apenas uma pessoa da equipe esteja fazendo a comunicação com a criança para que não haja excesso de informação. Essa técnica é eficaz para interceptar condutas inapropriadas. O controle com a voz é uma técnica essencial para o manejo dos pré-escolares. (2,4)

Reforço Positivo: “Cada vez que o atendimento for bem-sucedido, o profissional irá fazer um elogio, mostrando que gostou daquele comportamento”. É importante ressaltar que bom comportamento de cada criança varia de acordo com sua personalidade e fase de desenvolvimento e é importante parabenizá-los por todos os avanços no comportamento mesmo que não seja conforme o esperado. (2,4)

Distração: “Desvio da atenção do paciente de situações percebidas como desagradáveis”. Pode ser através de conto de histórias, músicas infantis, de forma que a criança possa se concentrar em outras situações que não seja a parte desconfortável do atendimento. (4)

Estabilização protetora (contenção física): “Restrição dos movimentos do paciente, com ou sem seu consentimento, para reduzir o risco de lesões durante o procedimento”. Por vezes será necessário conter a criança para que o procedimento seja feito de forma segura, nesses casos o ideal é que seja o responsável a fazer essa contenção sob orientação do profissional. Costumam ser aplicadas em bebês, crianças em idade pré-escolar e pacientes especiais que devido a imaturidade emocional podem ter comportamento exacerbado. (2,4)

Técnicas farmacológicas: “São usadas em situações em que condições médicas ou psicológicas do paciente não permitem que o atendimento transcorra seguro para ele e para o profissional”. Só deve ser usado em casos em que as técnicas de manejo comportamental não possam ser empregadas ou não foram bem-sucedidas, deve ser realizada por profissionais que tenham experiência. (3)

Todas essas técnicas são descritas na literatura como exitosas quando empregadas de acordo com a fase de desenvolvimento da criança. É importante que o cirurgião-dentista tenha conhecimento destas técnicas para que possa prestar um atendimento integral a população, de forma a realizar tudo que se considerar apto a realizar.

Referências

1- BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica nº17 – Saúde Bucal. 2008

2- Campos CC, et al. Clínica Odontológica Infantil Passo a Passo. Adaptação do comportamento das crianças em odontologia. V.1. Goiânia: UFG/FO: FUNAPE, 2010: 1-12.

3- Matos LB., Renan Bezerra Ferreira RB., Vieria LDS. Manejo de comportamento em crianças com ansiedade e estresse em clínica de Odontopediatria. Odontol Planal Cent. 2018 Jun-Nov;4(1):18-24.

4- Ferreira E, et al. O uso da contenção física como técnica de condicionamento no atendimento odontológico de bebês: revisão de literatura. Revista Gestão & Saúde. v. 14, n.1, p 31-36, 2016.

 

Colunista: Vitória Rodrigues – residente pela FESF (Fundação Estatal Saúde da Família).

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