Atendimento odontológico ao paciente com diabetes mellitus.

*Izadora Veiga e **Anildo Alves

Diabetes Mellitus (DM) é um distúrbio metabólico relacionado à glicose, caracterizado principalmente pela hiperglicemia resultante de disfunções na secreção ou ação da insulina. Essa condição está associada a diversas complicações clínicas, podendo causar nefropatia, neuropatia e falência de múltiplos órgãos (GOIS, et al., 2021). De acordo com a Academia Americana de Diabetes (ADA) e Organização Mundial da Saúde (OMS), o DM pode ser dividido em 4 principais tipos: DM tipo 1 (doença autoimune, onde ocorre a destruição das células beta ou produtoras de insulina pelo próprio sistema imunológico); DM tipo 2 (é o mais comum, resultante da resistência à insulina); DM gestacional (ocorre durante a gravidez, podendo desaparecer após o parto) e Outros tipos Específicos de DM (ADA, 2013).

Os sintomas mais comuns do DM são polidipsia, poliúria, polifagia e perda de peso. Indivíduos portadores da doença apresentam distúrbios de cicatrização, sendo o processo resolutivo falho ou mais lento. Além disso, o fluxo celular e sanguíneo é diminuído, resultando na redução da angiogênese (neoformação de vasos sanguíneos), estresse oxidativo e grande formação de produtos finais da glicação avançada. Em razão do crescente número de pacientes portadores de DM, torna-se de grande importância o conhecimento da doença e suas principais características pelos Cirurgiões dentistas, a fim de nortear os profissionais para o manejo mais adequado (BANDAY; SAMEER; NISSAR, 2020).

A cavidade oral pode exibir as primeiras manifestações clínicas de uma condição diabética não diagnosticada ou descompensada, sendo que, dentre as manifestações orais mais observadas, pode-se destacar a periodontite, candidose oral, hipossalivação e altos níveis de glicose salivar. O conhecimento do manejo clínico para esses indivíduos possibilita maior aderência ao tratamento, além de garantir a segurança do paciente e confiança do profissional que realizará os procedimentos odontológicos (OLIVEIRA et al., 2016).

A assistência odontológica voltada para o paciente diabético deve ser desenvolvida baseada em critérios de riscos, benefícios, qualidade e segurança, levando em consideração os parâmetros sistêmicos e interações medicamentosas. A literatura estabelece protocolos para o manejo terapêutico, sendo que os cuidados devem envolver a compensação sistêmica da DM, a farmacoterapia, o tipo de procedimento que será realizado e as singularidades inerentes à cada paciente. Previamente à intervenção odontológica, exames complementares como hemograma, hemoglobina glicada (HbA1C), glicemia em jejum e glicemia capilar podem ser solicitados, com intuito de otimizar o prognóstico do paciente e contribuir para segurança da atuação do Cirurgião dentista (BORTOLUZZI; MANDRO; NARDI, 2010).

A literatura propõe parâmetros para definição de riscos, classificando como: baixo risco (glicemia < 150mg/dl e HbA1C de 7%), médio risco (glicemia < 250mg/dl e HbA1C entre 7 e 9%) e alto risco (glicemia > 250mg/dl e HbA1C acima de 9%). Nota-se que os profissionais devem tomar as devidas precauções, pautando-se em uma cuidadosa anamnese e considerando o controle da doença e o uso de medicamentos. Para os pacientes de alto risco recomenda-se adiar o tratamento odontológico eletivo até as condições metabólicas se equilibrarem e referenciar o paciente para a equipe médica (BRANDÃO; SILVA; PENTEADO, 2011).

No que tange à farmacoterapia, o profissional deve-se atentar para a prescrição de algumas classes de fármacos que interagem com os hipoglicemiantes orais, como é o caso dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e utilizar em doses seguras anestésicos locais que contenham epinefrina. Antibióticos da classe das Penicilinas e Cefalosporinas são os mais indicados e pode-se optar pela sedação mínima empregando-se benzodiazepínicos (FERNANDES, et al., 2010; ANDRADE, 2013). É importante verificar se o paciente se alimentou e fez uso da medicação de forma adequada, antes da realização do procedimento odontológico, prevenindo complicações importantes e ameaçadoras à vida, como é o caso da hipoglicemia (níveis sanguíneos de glicose < 40-50mg/dl). Nessas situações, caba ao Cirurgião dentista reconhecer o quadro e encaminhar o paciente para equipe médica, como parte da atuação de uma equipe multidisciplinar (ANDRADE, 2013).

É de suma importância que o paciente diagnosticado com DM inclua o acompanhamento odontológico como uma etapa imprescindível para o tratamento e controle adequado da doença. A equipe de Odontologia exerce um papel fundamental no diagnóstico e cuidado com esse grupo de pacientes, devendo desenvolver uma prática clínica segura e pautada na literatura científica (BRANDÃO; SILVA; PENTEADO, 2011).

Colunistas

**Anildo Alves de Brito Júnior. Cirurgião Dentista. Mestrando em Odontologia e Saúde pela Universidade Federal da Bahia – PPGOS/UFBA. Pesquisador do Centro de Biofotônica da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. 

*Izadora Fernanda Veiga de Jesus Costa. Graduada em Odontologia- UFBA. Mestranda em Diagnóstico Bucal – PPGOS/UFB

Referências

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care. 2013;36(1):S67-S74.

ANDRADE ED. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 3ª.ed.Artes Médicas. 2013

BANDAY MZ, SAMEER AS, NISSAR S. Pathophysiology of diabetes: An overview. Avicenna J Med 2020;10:174-88.

BORTOLUZZI MC, MANDRO R, NARDI A. Glucose levels and hemodynamic changes Inpatients submitted to routine dental treatment with and without local anesthesia. Clinics (São Paulo). 2010;65(10):975-8.

BRANDÃO DFLMO, SILVA APG, PENTEADO LAM. Relação bidirecional entre a doença periodontal e a diabetes mellitus. OdontolClín-Cient. 2011;10(2):117-20.

FERNANDES PM, et al. Abordagem odontológica em pacientes com diabetes mellitus tipo 1. Pediatria (São Paulo). 2010;32(4):274-80.

GOIS TS et al. Physiopathology of healing in patients with diabetes mellitus. Brazilian Journal of Health Review,Curitiba, v.4, n.4, p.14438-14452jul./aug.2021

OLIVEIRA TF, et al. DENTAL PRACTICE IN DIABETIC PATIENTS: CLINICAL CONSIDERATIONS. Odontol. Clín.-Cient., Recife, 15(1) 13 – 17, jan./mar., 2016

 

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