Atendimento de pacientes oncológicos em odontologia

Vitória Rodrigues

O tratamento odontológico aos pacientes oncológicos é de suma importância a fim de prevenir e/ou diminuir possíveis complicações inerentes ao tratamento. No geral, o atendimento desses pacientes pode ser separado em dois momentos: o primeiro é o tratamento prévio a oncoterapia; e, os demais tratamentos, ocorrem para minimizar os efeitos colaterais da radio e quimioterapia. Em ambos os momentos, o objetivo é oferecer uma melhor qualidade de vida ao paciente.  (1)

O atendimento odontológico prévio, no início do tratamento quimioterápico, tem como objetivo eliminar ou estabilizar doenças bucais preexistentes e reduzir os focos infecciosos, tendo em vista que estes pacientes terão seu sistema imunológico suprimido, por tanto, se tornam mais susceptíveis a infecções oportunistas. (2)

A higiene oral inadequada e doenças dentárias pré-existentes são os fatores de risco bucais mais comuns para complicações orais advindas do tratamento oncológico.

Os pacientes devem ser avaliados antes do tratamento oncológico, através de uma anamnese minuciosa, além do exame clínico detalhado. Alguns autores relatam que nesse momento todos os dentes não restauráveis e/ou dentes com problemas periodontais avançados devem ser extraídos para reduzir a possibilidade de sequelas. O exame radiográfico inicial é essencial para avaliar a presença de focos infecciosos, a presença e/ou extensão da doença periodontal e, principalmente, a determinação da existência de doença metastática. (3)

É necessário que o profissional esteja preparado para as adversidades que podem surgir durante o processo de acompanhamento desse paciente. O plano de tratamento e condutas podem precisar ser ajustados de acordo com as necessidades apresentadas pelo paciente e, por muitas vezes, não será possível a execução de um plano de tratamento ideal. (1,2)

As alterações orais associadas à radioterapia são:

  1. Disgeusia – comumente é o primeiro sintoma apresentado; ocorre devido à atrofia das papilas gustativas, que podem estar associadas à redução do fluxo salivar, a perda de paladar pode permanecer por meses, tendo tratamento pouco consolidado na literatura. (4,5)
  2. Mucosite oral – consiste no dano ao epitélio que reveste a cavidade oral, caracteriza-se por eritemas e até ulcerações que aparecem em graus variados; seu tratamento pode ser feito com laser de baixa frequência que promove analgesia e contribui para cicatrização. (4)
  3. Xerostomia – outra alteração de glândula salivar, que consiste na sensação de boca seca, se dá pela disfunção das glândulas salivares; nesses casos o recomendado é o uso de estimulantes para produção salivar como gomas de mascar, saliva artificial, reposição de líquidos. (6,4)
  4. Trismo – considerado uma sequela de aparecimento tardio; causado pela exposição à radiação ionizante dos músculos masseter, temporal, pterigoides medial e lateral e da cápsula articular, levando o tecido à fibrose (6); o tratamento do paciente deve ser através de exercícios de fisioterapia.
  5. Cárie por radiação – ocorre em pacientes que realizam tratamento de câncer de cabeça e pescoço; ocorre de maneira generalizada e agressiva, devido a mudanças na quantidade da saliva e seus constituintes. (6)
  6. Osteorradionecrose – efeito adverso agressivo, onde há uma exposição de osso desvitalizado através de uma abertura na pele ou mucosa; o tratamento pode ser conservador ou não, pois isso varia de acordo com severidade e extensão do acometimento. (7)

Esses efeitos adversos podem afetar o tratamento oncológico, além de influenciar negativamente na qualidade de vida dos pacientes, por isso se faz necessária a inserção do dentista na equipe multiprofissional de acompanhamento deste paciente. (4)

Referências

1. Vieira, Danielle Leal; Leite, André Ferreira; Melo, Nilce Santos de; Figueiredo, Paulo Tadeu de Souza. Tratamento odontológico em pacientes oncológicos. Oral Sci., jul/dez. 2012, vol. 4, nº 2, p. 37-42.

2. Brasileiro, Mayara Marlla Maciel De Souza; Silva, Herrison Félix Valeriano da; Oliveira, Bianca Torres; Paulino, Marcilia Ribeiro; Batista, Mara Ilka Holanda de Medeiros. Assistência odontológica ao paciente oncológico pós-terapia antineoplásica. Research, Society and Development, v. 10, n. 6, e33210615679, 2021.

3. Andrews N, Griffiths C. Dental complications of head and neck radiotherapy: Part 2. Aust Dent J 2001;46:174-82.

4. Borges BS; Vale DA;  Aoki R, Trivino T, Fernandes KS. Atendimento odontológico de paciente submetido à radioterapia em região de cabe­ça e pescoço: relato de caso clínico. Rev. Odontol. Univ. Cid. São Paulo 2018 jul/set 30(3) 332-40.

5. NEVILLE, B. W. et. al. Patologia oral e maxilofacial. 4. ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2016

6. Santos S CC, Noro-Filho GA, Caputo BV, Souza RC, Andrade DMR, Giovani EM. Condu­tas práticas e efetivas recomendadas ao cirurgião-dentista no tratamento pré, trans e pós do câncer bucal. J Health Sci Inst 2013 31(4):368-72.

7. Anderson L. Cuidados odontológicos em pacientes oncológicos. Onco& 2014 set­-out;25(1):24-6.

Colunista: Vitória Rodrigues – residente pela FESF (Fundação Estatal Saúde da Família).

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