A importância da equipe de saúde bucal para a política nacional de controle do tabaco

*Amanda Lima

A dependência de nicotina é considerada uma epidemia que, não só configura por si um transtorno, como contribui de forma significativa como fator causal de 71% das mortes por câncer de pulmão, 42% das doenças respiratórias crônicas e cerca de 10% das doenças cardiovasculares (1). O tabagismo também é responsável por importante carga de doenças bucais, que incluem desde questões de menor complexidade como manchas e descoloração em dentes e restaurações até problemas graves, como câncer bucal, devido à presença de diversas substâncias carcinogêneas na fumaça de tabaco inalada. Além disso, o fumo contribui para o surgimento de doença periodontal, cáries, melanose, estomatite, leucoplasia, candidíase oral, e maiores índices de falha em implantes dentais (2; 3).

As evidências científicas demonstram que o risco dessas doenças orais é bastante superior em tabagistas, em comparação a não fumantes, e que este potencial é aumentado conforme a duração e intensidade do uso. Felizmente, a cessação do tabagismo produz efeitos importantes de redução da morbimortalidade e deve, portanto, ser encorajada por todos os profissionais de saúde, integrando às equipes dos programas de controle do tabagismo profissionais da Saúde Bucal (4;5).

No Brasil, a Política Nacional de Controle do Tabaco inclui ações multisetoriais, de educação e comunicação, atenção à saúde, medidas econômicas e ações legislativas que visam prevenir a iniciação do uso, promover a cessação e proteger a população exposta ao tabagismo passivo. Este movimento já se provou capaz de reduzir a prevalência do tabagismo nos últimos anos. Desde 2004, o tratamento do tabagismo passou a ser ampliado, podendo ser iniciado em qualquer nível de atenção à saúde, preferencialmente na Atenção Primária à Saúde, o que contribui para melhores resultados terapêuticos e prognósticos (1).

Todo profissional da saúde, mesmo que não seja responsável pelo seguimento do paciente, deve ser capacitado para realizar a abordagem breve nas consultas de rotina, que inclui questionar sobre o uso, avaliar, aconselhar o usuário e prepará-lo para o abandono do cigarro. Sempre que possível, deve-se manter o acompanhamento com retornos agendados para novas abordagens. No caso de interesse na interrupção do tabagismo, sugere-se ao paciente que estabeleça uma data para parar de fumar, e são orientados possíveis sintomas de abstinência, medidas para controle da fissura e de estímulos nocivos. Quando o usuário não se mostra disposto a cessar o uso dentro de 30 dias, cabe ao profissional estimular a reflexão e disponibilizar-se para novas conversas a respeito (1).

Enquanto profissionais de saúde especialmente dedicados aos cuidados à saúde oral, a equipe de saúde bucal (ESB), com destaque para os cirurgiões-dentistas, ocupa em sua prática diária uma posição favorável para abordar indivíduos que fumem, promovendo a educação em saúde e encorajando a participação em grupos terapêuticos para combate ao tabagismo (1; 3).A Política Nacional de Saúde Bucal reforça a importância da atuação ampliada da ESB, em diálogo com profissionais de outras áreas e não restrita apenas ao campo biológico e ao trabalho técnico–odontológico. Especialmente na APS, espera-se da ESB a abordagem integral doindivíduo, facilitando a promoção da saúde,proteção, prevenção, tratamento, cura e reabilitação. A abordagem para eliminação do tabagismo faz parte do papel da ESB de vigilância sobre importantes fatores de risco tanto para doenças da cavidade bucal quanto para outros agravos(6).

O SUS oferece tratamento para cessação do tabagismo, que combina o aconselhamento terapêutico em sessões estruturadas intensivas à farmacoterapia, considerando as condições particulares de cada paciente. O programa dura ao total 12 meses, seguindo desde a avaliação, até a intervenção e o apoio a manutenção.  As sessões podem ser ministradas por profissionais da saúde de nível superior, incluindo cirurgiões-dentistas e, idealmente devem contar com diferentes categorias profissionais articuladas. O tratamento medicamentoso inclui a nicotina (nas apresentações de adesivo, goma e pastilha), como terapia de reposição de nicotina (TRN) isolada ou em combinação; e cloridrato de bupropiona. A TRN combinada é o tratamento preferencial, de maior eficácia, aliando as formas lenta (adesivo) e rápida (goma ou pastilha) de liberação de nicotina, e pode ser prescrita por cirurgiões-dentistas. Já o cloridrato de bupropiona requer avaliação e prescrição médica. O tempo de tratamento total preconizado é de 12 meses e envolve as etapas de avaliação, intervenção e manutenção da abstinência (1).

Referências

  1. Ministério da Saúde. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS TABAGISMO. 2020.
  2. Reibe J. Tobaccoand Oral Diseases Update ontheEvidence, withRecommendations. Med PrincPract 2003;12(1):22–32.
  3. Winn DM. Tobacco Use and Oral Disease. Journal of Dental Education 2001, 65(4).
  4. Petersen PE. Tobaccoand Oral Health – the Role of the World Health Organization. Oral Health Prev Dent 2003; 1: 309–315.
  5. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica, nº 17 – Saúde Bucal. 2008.
  6. Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes da política nacional de saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

Colunista:

* Amanda de Brito Tavares de Lima – Médica graduada pela Faculdade de Medicina da Bahia FMB-UFBA, residente em Saúde da Família e Comunidade FESF-SUS

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